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Ano: 2023

Reintrodução de resíduos do pré e pós consumo transformados em uma nova fibra

Lojas Riachuelo S.A

Categoria: Processos

Aspectos Gerais da Prática:

“O caminho da indústria têxtil e de confecção no presente e no futuro vem se pautando na adoção de práticas mais sustentáveis por seus altos impactos ao meio ambiente. O setor é, atualmente, caracterizado como um dos mais poluentes do mundo, cujas operações geram numerosos impactos sociais e ambientais, como alto nível de consumo de energia e água, contaminação da água e do solo, emissão de gases de efeito estufa e geração de grandes quantidades de resíduos sólidos.
Uma das maiores empresas do setor têxtil no Brasil, a Riachuelo sabe da importância de buscar soluções para mitigar tais impactos e tem se articulado, unindo forças com players do setor e investindo fortemente em tecnologia e inovação. E uma das principais frentes de atuação do Grupo nesse sentido é a Economia Circular, que se apresenta como um caminho viável e salutar não somente para a geração de resíduos, como também para criar uma cadeia com processos produtivos e matérias primas mais sustentáveis. Neste contexto, A Riachuelo se uniu ao Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) com a ambiciosa missão de criar uma nova fibra têxtil que fosse escalonável e produzida a partir de resíduos têxteis de sua fábrica em Natal.
A ideia é utilizar resíduos têxteis que são gerados no processo produtivo do pré consumo, ou seja, em sua fase industrial, transformá-los em matéria prima de qualidade, reinserindo esse material em sua cadeia de valor. A ação impactará não somente na redução considerável da geração de resíduos têxteis como também gerará um menor impacto ao meio ambiente quando se fala no consumo de recursos naturais para obtenção de matérias primas e seus consequentes processos produtivos.
O investimento do projeto foi de R$ 2 milhões por parte da Riachuelo e pretende impulsionar a reciclagem têxtil em circuito fechado. Este documento será focado na apresentação deste projeto que prevê o reaproveitamento de 3mil toneladas ano de resíduos têxteis.
1.1 Cenário
A geração de resíduos está entre os impactos ambientais causados pelo crescimento populacional, consumo, produção e descarte. Anualmente no Brasil, apenas 4% dos resíduos sólidos descartados são reaproveitados, enquanto que, em países desenvolvidos como a Alemanha o índice alcança 67% (GANDRA, 2022).
Entre os setores produtivos geradores de grande volume de resíduos, está o setor têxtil, (TOBLER-ROHR, 2011), também caracterizado como um dos mais poluentes, sendo responsável por até 10% da emissão de gases de efeito (GEE) (BERG, A.; et al 2020). Nos últimos 15 anos, o setor passou de uma produção de 50 bilhões de peças para 100 bilhões, isto é, em 15 anos houve um aumento de 100% (ELLEN MACARTHUR FOUNDATION, 2017a).
Se o crescimento populacional, a extração, consumo de recursos, produção e poluição não forem equacionados, o planeta atingirá sua capacidade biofísica em algum momento (MEADOWS, DONELLA H et al., 2004). Há inúmeras situações de lixões a céu aberto com toneladas de peças de roupas, que simplesmente são descartadas por países desenvolvidos sem o acompanhamento quanto a sua destinação final (BBC, 2021; EXAME, 2021; GLOBO 22). Em Gana, na África Ocidental, por exemplo, semanalmente são recebidas 15 milhões de peças de vestuário, doadas principalmente pelos Estados Unidos, Europa e China. Apesar de parte das peças passarem por um processo de triagem e serem revendidas no mercado interno, grande parte é destinada para os lixões, aumentando o impacto ambiental negativo (BBC, 2021).
1.2 Contextualização do Projeto
A cadeia têxtil e de confecção é atualmente caracterizada como um dos setores mais poluentes do mundo, cujas operações geram numerosos impactos sociais e ambientais, como alto nível de consumo de energia e água, contaminação da água e do solo, emissão de gases de efeito estufa e geração de grandes quantidades de resíduos sólidos (TOBLER-ROHR, 2011).
Assim, associada às lógicas de produção e consumo prevalecentes do sistema da moda e ao rápido crescimento demográfico e econômico, a atividade têxtil vem sendo considerada uma das principais responsáveis pelo consumo em grande escala e no uso inadequado dos recursos naturais. Globalmente, o consumo anual de fibras têxteis está estimado em 105 milhões de toneladas, predominando o consumo de fibras sintéticas à base de petróleo, que correspondem a mais de 60 % (TRUSCOTT et al., 2018). Deste total, 53 milhões de toneladas de fibras são consumidas anualmente para fazer roupas. A perspectiva é que até 2030 esse consumo aumente em 63 % (BOSTON CONSULTING GROUP; GLOBAL FASHION AGENDA, 2017), contribuindo, assim, com níveis crescentes de resíduos têxteis, que são na maior parte descartados sem nenhum valor. Esse cenário tem determinado uma crescente discrepância entre oferta e demanda de fibra, um fenômeno que Scheffer (2012) denomina como “fiber gap”.
Em contraste, o volume de resíduos têxteis descartado principalmente em aterros ou incineradores continua aumentando significativamente (WRAP, 2019), sendo que menos de 1% do material usado para produzir roupas é reaproveitado para a produção de outras roupas novas (ELLEN MACARTHUR FOUNDATION, 2017). No Brasil, onde abriga a maior cadeia têxtil do Ocidente e o quarto maior produtor de artigos confeccionados do mundo, a destinação inadequada dos resíduos sólidos, o que inclui o descarte de aparas de confecção e de artigos confeccionados no seu pós-uso, é um dos principais problemas ambientais enfrentados pelas empresas dessa cadeia. De acordo com Lorenzetti (2018), cerca de 170 mil toneladas de resíduos têxteis são geradas pelas confecções por ano. Deste total, estima-se que pelo menos 40 % são reprocessados por empresas recicladoras.
1.3 Descarte de resíduos têxteis
Conforme exposto no item anterior, o sistema tradicional de produção e consumo da cadeia têxtil opera de forma linear, tendo grandes quantidades de matérias-primas (em grande parte não renováveis) extraídas para produção de peças, cujo ciclo de vida é caracterizado por um curto período de uso, e em seguida levadas a um descarte precoce e inapropriado (ELLEN MACARTHUR FOUNDATION, 2017).
Os resíduos têxteis, de acordo com a norma ABNT 10.004/2004 são classificados como não perigosos e não inertes. A priori podem ser divididos em duas categorias principais: pós-industrial, que são materiais provenientes dos processos produtivos que transformam a matéria-prima em produto final; e o pós-consumo, referente ao produto descartado após seu uso. A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) Lei 12.305/2010 se estabelece como uma ferramenta, que através de um conjunto de ações, fomenta a busca por soluções para os resíduos sólidos, através das estratégias de prevenção e redução da geração dos mesmos. A Lei 12.305/2010 aborda princípios de destaque, como a política dos 3R´s – reduzir, reutilizar e reciclar. Segundo (REIS, et al, 2017) a lei engloba um conjunto de práticas que envolve consumo consciente, reduzindo significativamente índices de desperdício, trato sobre os resíduos existentes, através da reciclagem, e a reinserção dos mesmos no sistema produtivo, englobando o reuso. Com a aplicação dessas etapas espera-se como resultado uma redução de danos sobre o ciclo de vida dos recursos naturais, ao diminuir o consumo de matérias primas, o aumento de vida útil dos aterros sanitários e dos produtos têxteis. Com a lei a responsabilidade sobre os resíduos passa a ser compartilhada, entre cidadãos, empresas, estados e governos, considerando dessa forma a visibilidade sobre dimensões nos âmbitos político, econômico, ambiental, cultural e social, sob a circunstância do desenvolvimento sustentável.
1.4 Economia Circular – como um dos caminhos a seguir
A economia circular, se apresenta com um dos caminhos capazes de mitigar os impactos ambientais ocasionados pela atividade têxtil, que é extremamente dependente dos recursos renováveis e não renováveis para seu contínuo crescimento econômico. E na mesma intensidade descarta grandes volumes de resíduos diariamente, que são destinados inadequadamente para aterros sanitários/lixões ou ainda transferidos para países em desenvolvimento.
Com a crescente preocupação com as questões ambientais e o esgotamento dos recursos naturais, as indústrias e a sociedade estão sendo cada vez mais impelidas a buscarem alternativas de desenvolvimento econômico mais compatíveis com as necessidades de sociais e ambientais. Isso inclui idealmente a redução do consumo, extensão da vida útil do produto (reutilização, reparo, atualização e remanufatura) e minimização de resíduos (NIINIMÄKI et al., 2020).
Da perspectiva da economia circular, na qual prevê a conservação dos materiais em um ciclo fechado, o desenvolvimento de uma produção têxtil sustentável e escalável de alta qualidade, associada a tecnologias e sistemas de reciclagem eficazes se fazem necessários para garantir o fluxo circular de recursos (ELLEN MACARTHUR FOUNDATION, 2017). Assim, a reciclagem têxtil emerge como uma das estratégias para redução do descarte de resíduos e otimização de matérias primas dentro de um novo paradigma de desenvolvimento econômico.
A ampla gama de materiais têxteis utilizados na indústria de confecção e a gestão adequada dos resíduos no pré e pós consumo, porém, são ainda fatores importantes que dificultam a aplicação de processos de separação e reaproveitamento dessas matérias primas na sua unidade têxtil primária (fibras), de forma que os materiais obtidos das tecnologias atuais voltam para o mercado na forma de novos produtos de mais baixo valor agregado (downcycling). Nesse contexto, o principal desafio deste projeto é desenvolver processos eficientes e escalonáveis para separação e reciclagem de têxteis, por meio de diferentes rotas tecnológicas, garantindo a obtenção de novas fibras que possam ser aplicadas na produção de novos produtos mais ou menos idêntico ao original (closed-loop) ou ainda de maior valor agregado (upcycling).
1.5 Sobre o projeto de desenvolvimento de nova fibra a partir de resíduos têxteis
A Parceria firmada entre a Riachuelo e o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), em 2021, pretende desenvolver uma tecnologia que permita transformar os resíduos têxteis de sua unidade fabril – localizada em Natal – em nova fibra têxtil. O intuito é reintroduzir tais resíduos no ciclo de vida do produto como matérias primas, reduzir a utilização de matérias primas virgens, causando menor impacto ao meio ambiente. A previsão é reaproveitar mais de 3 mil toneladas por ano com a iniciativa.
Para tanto, a Riachuelo investiu R$ 2 milhões direcionados ao IPT que trabalha na missão de prospectar e desenvolver processos de reciclagem de resíduos têxteis procedentes da produção têxtil da unidade fabril da Riachuelo localizada em Natal. O intuito é reinserir essas matérias primas na cadeia têxtil novamente a partir da nova fibra criada – que deve apresentar capacidade de escalabilidade e aplicação por outros players do setor.
A parceria focada nos resíduos têxteis do pré consumo terá a duração de dois anos e contempla as seguintes fases:
(1) Prospecção de Tecnologias, Mapeamento, Caracterização e Classificação dos resíduos;
(2) Desenvolvimento dos processos de Reciclagem e Classificação das Fibras Obtidas;
(3) Prototipagem de Materiais Têxteis para Avaliação dos Protótipos e Transferência de Tecnologia.
1.6 Fase 1 do Projeto
A Fase 1 do projeto teve como objetivo mapear, caracterizar e classificar os resíduos têxteis gerados em uma unidade de produção de vestuário do cliente, bem como investigar e prospectar rotas tecnológicas para reciclagem e recuperação destes resíduos, baseadas no mais recente estado da arte.
Com base na fase 1, o Instituto de Pesquisa Instituto idealizou algumas rotas de reciclagem como processo físico (mecânico), químico e biológico. O processo físico objetiva a preservação da estrutura do material. Neste caso, o foco inicial é o algodão, principal matéria prima utilizada pela empresa e caracterizada como uma fibra nobre. O objetivo é ter um fio 100% de algodão reciclado adicionado a matéria prima virgem, produzindo, portanto, insumo para a composição de um tecido com performance para atender as demandas do mercado.
No processo físico (mecânico), também é possível o reaproveitamento de tecidos mistos e a geração de fio misto, isto significa que um tecido poderá com composição diferentes como algodão, viscose, poliéster e outras fibras, poderá ser transformado em um fio têxtil misto.
Para o caso de fios mistos, o elastano em particular impossibilita a reintrodução desta composição para uma nova fibra, considerando as tecnologias disponíveis até o momento.
A rota biológica, apesar de não ser prioritária neste momento, também será considerada como possibilidade para a recuperação de matérias primas a base de celulose e pet. Neste caso, promovendo a produção de fios a base de viscose e poliéster reciclados. Vale ressaltar que normalmente o mercado foca no processo físico e químico, mas os processos térmicos e biológicos também são possíveis apesar de pouco explorado no mercado.
Foram escolhidas a rota mecânica por ser mais a utilizada no setor têxtil para a reciclagem em escala industrial por apresentar melhor qualidade do fio proveniente do algodão reciclado.
1.7 Reciclagem mecânica
A reciclagem mecânica é o processo de reciclagem têxtil mais conhecido e cuja tecnologia já é bem consolidada na indústria, embora mereça ainda muitas melhorias. Ela é escalonável e os custos associados são menores se comparados aos processos químicos e de base biológica, porém, com frequência, os derivados de seu resultado são produtos de baixo custo e de qualidade inferior (DAMAYANTI et al., 2021; ROOS et al., 2019). A Reciclagem mecânica é um processo de reciclagem de fibra, pelo qual o tecido e os seus fios são desmanchados e a estrutura da fibra é preservada, podendo ser aplicado a praticamente todos os tipos de materiais têxteis. O processo de reciclagem mecânica mais usual se dá por meio da “desfibragem”, seguida das operações trituração ou corte (RIBUL et al., 2021). Nele são aplicáveis o uso de retalhos e sobras de tecidos, que podem ser de diferentes estruturas e composições, que podem ser separadas para obtenção de acordo com o resultado desejado. Uma quantidade de tecidos é triturado ou cortado é posteriormente desfibrado para produzir uma mecha que pode ser fiada em novos fios (ROOS et al., 2019). A principal limitação dessa tecnologia de reciclagem é que a operação de triturar e cortar os retalhos de tecidos leva à diminuição do comprimento original das fibras, sendo muitas vezes necessária a mistura com fibras virgens, para alcançar um fio com resistência e a qualidade necessárias para o vestuário (DAMAYANTI et al., 2021; LE, 2018).
Entre a fase 1 e a fase 2 do projeto, a Riachuelo e o IPT lançarão uma coleção cápsula com matérias primas de fibra têxtil reciclada. Trata-se de um exercício rumo à jornada da criação da nova fibra (objetivo final do projeto como um todo), que contempla essa espécie de “projeto piloto” e tem por objetivo testar a relação com fornecedores no processo produtivo, dinâmicas de logística, qualidade, estética e design do produto, além da receptividade do consumidor final. A coleção será composta por peças de malharia e moletons e a matéria prima será feita a partir de resíduos têxteis da fábrica de Natal da companhia. A produção dessa fibra será realizada a partir de tecnologias existentes no mercado, como a reciclagem mecânica, junto a fornecedores da indústria que já atuam com essa frente.
1.8 Fase 2 do Projeto
Atualmente, o projeto se encontra na Fase 2. Em pesquisa de campo na unidade fabril do Grupo Guararapes em Natal, o IPT identificou que a principal fonte dos resíduos têxteis do pré consumo se encontra na fase do corte de tecido. Apesar da companhia se utilizar de processos inovadores de corte para um melhor aproveitamento do tecido, é nessa etapa de seu processo produtivo que o volume de resíduos têxteis gerados é considerável.
Nessa mesma fase 2, foi concluído que esses resíduos possuem a qualidade que permitem redirecionar tais materiais para a regeneração das fibras e obter alto valor agregado na construção de uma nova fibra. Enquanto que nas fases seguintes como costura, malharia e tinturaria, são gerados menor volume de resíduos e os materiais resultantes são fragmentados, o que acaba resultando em materiais provavelmente de menor valor agregado devido sua estrutura.

Relevância para o Negócio:

“A companhia trabalha com as seguintes Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) no projeto:
6. Água Potável e Saneamento
9 Industria, inovação e infraestrutura
12 Consumo e Produção Responsáveis
13 Combate às Alterações Climáticas
17 Parcerias em Prol das Metas
2.1 Compromisso com uma atuação ambientalmente responsável
Como comentado anteriormente, a indústria da moda é conhecida por seu impacto ambiental devido ao consumo excessivo de recursos naturais, emissões de gases de efeito estufa e geração de resíduos. As empresas desempenham um papel fundamental na sociedade e tem a responsabilidade de agir de maneira ética e responsável em relação ao meio ambiente. Investir no projeto reforça o compromisso e a atuação da companhia e demonstra seu comprometimento com o bem-estar do planeta de gerações futuras.
A criação de uma fibra têxtil a partir de resíduos têxteis ajuda a reduzir a quantidade de resíduos enviados a aterros sanitários e a minimizar a extração de recursos naturais. Uma empresa engajada em mitigar os impactos ambientais é condição sine qua non para que esta esteja atuante na economia. Trabalhar de maneira salutar junto ao meio ambiente.
” ”
3.1 Comprometimento com a Economia Circular no Setor Têxtil
A nova tecnologia cria uma produção mais sustentável, uma vez que reduzirá o consumo de matérias primas virgens e incentivará o reaproveitamento de materiais existentes. Além disso, a companhia pretende, a partir dessa tecnologia, ganhar escalabilidade e aplicabilidade para o setor têxtil.
3.2 Inovação e diferenciação:
Os investimentos em Tecnologia e Inovação junto ao IPT abre uma grande janela de investimentos via departamento de sustentabilidade. A ideia é que após a conclusão desse projeto a companhia siga trabalhando junto a entidades entre outros parceiros na busca de soluções não somente de mitigação de seus impactos ambientais como também na promoção de regenerar ecossistemas.

Aspectos Inovadores Relacionados a Prática:

Não informado

Contribuição da Prática para o Desempenho da Empresa:

“O caminho da indústria têxtil e de confecção no presente e no futuro vem se pautando na adoção de práticas mais sustentáveis por seus altos impactos ao meio ambiente. O setor é, atualmente, caracterizado como um dos mais poluentes do mundo, cujas operações geram numerosos impactos sociais e ambientais, como alto nível de consumo de energia e água, contaminação da água e do solo, emissão de gases de efeito estufa e geração de grandes quantidades de resíduos sólidos.
Uma das maiores empresas do setor têxtil no Brasil, a Riachuelo sabe da importância de buscar soluções para mitigar tais impactos e tem se articulado, unindo forças com players do setor e investindo fortemente em tecnologia e inovação. E uma das principais frentes de atuação do Grupo nesse sentido é a Economia Circular, que se apresenta como um caminho viável e salutar não somente para a geração de resíduos, como também para criar uma cadeia com processos produtivos e matérias primas mais sustentáveis. Neste contexto, A Riachuelo se uniu ao Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) com a ambiciosa missão de criar uma nova fibra têxtil que fosse escalonável e produzida a partir de resíduos têxteis de sua fábrica em Natal.
A ideia é utilizar resíduos têxteis que são gerados no processo produtivo do pré consumo, ou seja, em sua fase industrial, transformá-los em matéria prima de qualidade, reinserindo esse material em sua cadeia de valor. A ação impactará não somente na redução considerável da geração de resíduos têxteis como também gerará um menor impacto ao meio ambiente quando se fala no consumo de recursos naturais para obtenção de matérias primas e seus consequentes processos produtivos.
O investimento do projeto foi de R$ 2 milhões por parte da Riachuelo e pretende impulsionar a reciclagem têxtil em circuito fechado. Este documento será focado na apresentação deste projeto que prevê o reaproveitamento de 3mil toneladas ano de resíduos têxteis.
1.1 Cenário
A geração de resíduos está entre os impactos ambientais causados pelo crescimento populacional, consumo, produção e descarte. Anualmente no Brasil, apenas 4% dos resíduos sólidos descartados são reaproveitados, enquanto que, em países desenvolvidos como a Alemanha o índice alcança 67% (GANDRA, 2022).
Entre os setores produtivos geradores de grande volume de resíduos, está o setor têxtil, (TOBLER-ROHR, 2011), também caracterizado como um dos mais poluentes, sendo responsável por até 10% da emissão de gases de efeito (GEE) (BERG, A.; et al 2020). Nos últimos 15 anos, o setor passou de uma produção de 50 bilhões de peças para 100 bilhões, isto é, em 15 anos houve um aumento de 100% (ELLEN MACARTHUR FOUNDATION, 2017a).
Se o crescimento populacional, a extração, consumo de recursos, produção e poluição não forem equacionados, o planeta atingirá sua capacidade biofísica em algum momento (MEADOWS, DONELLA H et al., 2004). Há inúmeras situações de lixões a céu aberto com toneladas de peças de roupas, que simplesmente são descartadas por países desenvolvidos sem o acompanhamento quanto a sua destinação final (BBC, 2021; EXAME, 2021; GLOBO 22). Em Gana, na África Ocidental, por exemplo, semanalmente são recebidas 15 milhões de peças de vestuário, doadas principalmente pelos Estados Unidos, Europa e China. Apesar de parte das peças passarem por um processo de triagem e serem revendidas no mercado interno, grande parte é destinada para os lixões, aumentando o impacto ambiental negativo (BBC, 2021).
1.2 Contextualização do Projeto
A cadeia têxtil e de confecção é atualmente caracterizada como um dos setores mais poluentes do mundo, cujas operações geram numerosos impactos sociais e ambientais, como alto nível de consumo de energia e água, contaminação da água e do solo, emissão de gases de efeito estufa e geração de grandes quantidades de resíduos sólidos (TOBLER-ROHR, 2011).
Assim, associada às lógicas de produção e consumo prevalecentes do sistema da moda e ao rápido crescimento demográfico e econômico, a atividade têxtil vem sendo considerada uma das principais responsáveis pelo consumo em grande escala e no uso inadequado dos recursos naturais. Globalmente, o consumo anual de fibras têxteis está estimado em 105 milhões de toneladas, predominando o consumo de fibras sintéticas à base de petróleo, que correspondem a mais de 60 % (TRUSCOTT et al., 2018). Deste total, 53 milhões de toneladas de fibras são consumidas anualmente para fazer roupas. A perspectiva é que até 2030 esse consumo aumente em 63 % (BOSTON CONSULTING GROUP; GLOBAL FASHION AGENDA, 2017), contribuindo, assim, com níveis crescentes de resíduos têxteis, que são na maior parte descartados sem nenhum valor. Esse cenário tem determinado uma crescente discrepância entre oferta e demanda de fibra, um fenômeno que Scheffer (2012) denomina como “fiber gap”.
Em contraste, o volume de resíduos têxteis descartado principalmente em aterros ou incineradores continua aumentando significativamente (WRAP, 2019), sendo que menos de 1% do material usado para produzir roupas é reaproveitado para a produção de outras roupas novas (ELLEN MACARTHUR FOUNDATION, 2017). No Brasil, onde abriga a maior cadeia têxtil do Ocidente e o quarto maior produtor de artigos confeccionados do mundo, a destinação inadequada dos resíduos sólidos, o que inclui o descarte de aparas de confecção e de artigos confeccionados no seu pós-uso, é um dos principais problemas ambientais enfrentados pelas empresas dessa cadeia. De acordo com Lorenzetti (2018), cerca de 170 mil toneladas de resíduos têxteis são geradas pelas confecções por ano. Deste total, estima-se que pelo menos 40 % são reprocessados por empresas recicladoras.
1.3 Descarte de resíduos têxteis
Conforme exposto no item anterior, o sistema tradicional de produção e consumo da cadeia têxtil opera de forma linear, tendo grandes quantidades de matérias-primas (em grande parte não renováveis) extraídas para produção de peças, cujo ciclo de vida é caracterizado por um curto período de uso, e em seguida levadas a um descarte precoce e inapropriado (ELLEN MACARTHUR FOUNDATION, 2017).
Os resíduos têxteis, de acordo com a norma ABNT 10.004/2004 são classificados como não perigosos e não inertes. A priori podem ser divididos em duas categorias principais: pós-industrial, que são materiais provenientes dos processos produtivos que transformam a matéria-prima em produto final; e o pós-consumo, referente ao produto descartado após seu uso. A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) Lei 12.305/2010 se estabelece como uma ferramenta, que através de um conjunto de ações, fomenta a busca por soluções para os resíduos sólidos, através das estratégias de prevenção e redução da geração dos mesmos. A Lei 12.305/2010 aborda princípios de destaque, como a política dos 3R´s – reduzir, reutilizar e reciclar. Segundo (REIS, et al, 2017) a lei engloba um conjunto de práticas que envolve consumo consciente, reduzindo significativamente índices de desperdício, trato sobre os resíduos existentes, através da reciclagem, e a reinserção dos mesmos no sistema produtivo, englobando o reuso. Com a aplicação dessas etapas espera-se como resultado uma redução de danos sobre o ciclo de vida dos recursos naturais, ao diminuir o consumo de matérias primas, o aumento de vida útil dos aterros sanitários e dos produtos têxteis. Com a lei a responsabilidade sobre os resíduos passa a ser compartilhada, entre cidadãos, empresas, estados e governos, considerando dessa forma a visibilidade sobre dimensões nos âmbitos político, econômico, ambiental, cultural e social, sob a circunstância do desenvolvimento sustentável.
1.4 Economia Circular – como um dos caminhos a seguir
A economia circular, se apresenta com um dos caminhos capazes de mitigar os impactos ambientais ocasionados pela atividade têxtil, que é extremamente dependente dos recursos renováveis e não renováveis para seu contínuo crescimento econômico. E na mesma intensidade descarta grandes volumes de resíduos diariamente, que são destinados inadequadamente para aterros sanitários/lixões ou ainda transferidos para países em desenvolvimento.
Com a crescente preocupação com as questões ambientais e o esgotamento dos recursos naturais, as indústrias e a sociedade estão sendo cada vez mais impelidas a buscarem alternativas de desenvolvimento econômico mais compatíveis com as necessidades de sociais e ambientais. Isso inclui idealmente a redução do consumo, extensão da vida útil do produto (reutilização, reparo, atualização e remanufatura) e minimização de resíduos (NIINIMÄKI et al., 2020).
Da perspectiva da economia circular, na qual prevê a conservação dos materiais em um ciclo fechado, o desenvolvimento de uma produção têxtil sustentável e escalável de alta qualidade, associada a tecnologias e sistemas de reciclagem eficazes se fazem necessários para garantir o fluxo circular de recursos (ELLEN MACARTHUR FOUNDATION, 2017). Assim, a reciclagem têxtil emerge como uma das estratégias para redução do descarte de resíduos e otimização de matérias primas dentro de um novo paradigma de desenvolvimento econômico.
A ampla gama de materiais têxteis utilizados na indústria de confecção e a gestão adequada dos resíduos no pré e pós consumo, porém, são ainda fatores importantes que dificultam a aplicação de processos de separação e reaproveitamento dessas matérias primas na sua unidade têxtil primária (fibras), de forma que os materiais obtidos das tecnologias atuais voltam para o mercado na forma de novos produtos de mais baixo valor agregado (downcycling). Nesse contexto, o principal desafio deste projeto é desenvolver processos eficientes e escalonáveis para separação e reciclagem de têxteis, por meio de diferentes rotas tecnológicas, garantindo a obtenção de novas fibras que possam ser aplicadas na produção de novos produtos mais ou menos idêntico ao original (closed-loop) ou ainda de maior valor agregado (upcycling).
1.5 Sobre o projeto de desenvolvimento de nova fibra a partir de resíduos têxteis
A Parceria firmada entre a Riachuelo e o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), em 2021, pretende desenvolver uma tecnologia que permita transformar os resíduos têxteis de sua unidade fabril – localizada em Natal – em nova fibra têxtil. O intuito é reintroduzir tais resíduos no ciclo de vida do produto como matérias primas, reduzir a utilização de matérias primas virgens, causando menor impacto ao meio ambiente. A previsão é reaproveitar mais de 3 mil toneladas por ano com a iniciativa.
Para tanto, a Riachuelo investiu R$ 2 milhões direcionados ao IPT que trabalha na missão de prospectar e desenvolver processos de reciclagem de resíduos têxteis procedentes da produção têxtil da unidade fabril da Riachuelo localizada em Natal. O intuito é reinserir essas matérias primas na cadeia têxtil novamente a partir da nova fibra criada – que deve apresentar capacidade de escalabilidade e aplicação por outros players do setor.
A parceria focada nos resíduos têxteis do pré consumo terá a duração de dois anos e contempla as seguintes fases:
(1) Prospecção de Tecnologias, Mapeamento, Caracterização e Classificação dos resíduos;
(2) Desenvolvimento dos processos de Reciclagem e Classificação das Fibras Obtidas;
(3) Prototipagem de Materiais Têxteis para Avaliação dos Protótipos e Transferência de Tecnologia.
1.6 Fase 1 do Projeto
A Fase 1 do projeto teve como objetivo mapear, caracterizar e classificar os resíduos têxteis gerados em uma unidade de produção de vestuário do cliente, bem como investigar e prospectar rotas tecnológicas para reciclagem e recuperação destes resíduos, baseadas no mais recente estado da arte.
Com base na fase 1, o Instituto de Pesquisa Instituto idealizou algumas rotas de reciclagem como processo físico (mecânico), químico e biológico. O processo físico objetiva a preservação da estrutura do material. Neste caso, o foco inicial é o algodão, principal matéria prima utilizada pela empresa e caracterizada como uma fibra nobre. O objetivo é ter um fio 100% de algodão reciclado adicionado a matéria prima virgem, produzindo, portanto, insumo para a composição de um tecido com performance para atender as demandas do mercado.
No processo físico (mecânico), também é possível o reaproveitamento de tecidos mistos e a geração de fio misto, isto significa que um tecido poderá com composição diferentes como algodão, viscose, poliéster e outras fibras, poderá ser transformado em um fio têxtil misto.
Para o caso de fios mistos, o elastano em particular impossibilita a reintrodução desta composição para uma nova fibra, considerando as tecnologias disponíveis até o momento.
A rota biológica, apesar de não ser prioritária neste momento, também será considerada como possibilidade para a recuperação de matérias primas a base de celulose e pet. Neste caso, promovendo a produção de fios a base de viscose e poliéster reciclados. Vale ressaltar que normalmente o mercado foca no processo físico e químico, mas os processos térmicos e biológicos também são possíveis apesar de pouco explorado no mercado.
Foram escolhidas a rota mecânica por ser mais a utilizada no setor têxtil para a reciclagem em escala industrial por apresentar melhor qualidade do fio proveniente do algodão reciclado.
1.7 Reciclagem mecânica
A reciclagem mecânica é o processo de reciclagem têxtil mais conhecido e cuja tecnologia já é bem consolidada na indústria, embora mereça ainda muitas melhorias. Ela é escalonável e os custos associados são menores se comparados aos processos químicos e de base biológica, porém, com frequência, os derivados de seu resultado são produtos de baixo custo e de qualidade inferior (DAMAYANTI et al., 2021; ROOS et al., 2019). A Reciclagem mecânica é um processo de reciclagem de fibra, pelo qual o tecido e os seus fios são desmanchados e a estrutura da fibra é preservada, podendo ser aplicado a praticamente todos os tipos de materiais têxteis. O processo de reciclagem mecânica mais usual se dá por meio da “desfibragem”, seguida das operações trituração ou corte (RIBUL et al., 2021). Nele são aplicáveis o uso de retalhos e sobras de tecidos, que podem ser de diferentes estruturas e composições, que podem ser separadas para obtenção de acordo com o resultado desejado. Uma quantidade de tecidos é triturado ou cortado é posteriormente desfibrado para produzir uma mecha que pode ser fiada em novos fios (ROOS et al., 2019). A principal limitação dessa tecnologia de reciclagem é que a operação de triturar e cortar os retalhos de tecidos leva à diminuição do comprimento original das fibras, sendo muitas vezes necessária a mistura com fibras virgens, para alcançar um fio com resistência e a qualidade necessárias para o vestuário (DAMAYANTI et al., 2021; LE, 2018).
Entre a fase 1 e a fase 2 do projeto, a Riachuelo e o IPT lançarão uma coleção cápsula com matérias primas de fibra têxtil reciclada. Trata-se de um exercício rumo à jornada da criação da nova fibra (objetivo final do projeto como um todo), que contempla essa espécie de “projeto piloto” e tem por objetivo testar a relação com fornecedores no processo produtivo, dinâmicas de logística, qualidade, estética e design do produto, além da receptividade do consumidor final. A coleção será composta por peças de malharia e moletons e a matéria prima será feita a partir de resíduos têxteis da fábrica de Natal da companhia. A produção dessa fibra será realizada a partir de tecnologias existentes no mercado, como a reciclagem mecânica, junto a fornecedores da indústria que já atuam com essa frente.
1.8 Fase 2 do Projeto
Atualmente, o projeto se encontra na Fase 2. Em pesquisa de campo na unidade fabril do Grupo Guararapes em Natal, o IPT identificou que a principal fonte dos resíduos têxteis do pré consumo se encontra na fase do corte de tecido. Apesar da companhia se utilizar de processos inovadores de corte para um melhor aproveitamento do tecido, é nessa etapa de seu processo produtivo que o volume de resíduos têxteis gerados é considerável.
Nessa mesma fase 2, foi concluído que esses resíduos possuem a qualidade que permitem redirecionar tais materiais para a regeneração das fibras e obter alto valor agregado na construção de uma nova fibra. Enquanto que nas fases seguintes como costura, malharia e tinturaria, são gerados menor volume de resíduos e os materiais resultantes são fragmentados, o que acaba resultando em materiais provavelmente de menor valor agregado devido sua estrutura.

Gestão da Prática Relatada:

Como comentado no item anterior, o projeto foi dividido em três fases. A cada fase concluída, o Instituto de Pesquisas Tecnológicas gera um documento com todas as análises, atividades e avanços realizados. Além disso, a equipe técnica do IPT faz visitas à nossa Unidade fabril em Natal e acompanhamos o andamento com reuniões semanais.

Possibilidade de Disseminação ou Replicação:

Desde o início do projeto, um dos pedidos da Riachuelo ao IPT foi que a nova fibra fosse escalável e aplicável para todo o setor têxtil. A ideia é abranger a viabilidade de produção em larga escala da nova fibra têxtil e implementar a tecnologia em escala comercial pela Riachuelo.