“Levando em consideração que o Brasil possui cerca de 207,8 milhões de habitantes, conforme o último censo do IBGE, e em 2022 foram vendidos 213,7 milhões de pares de Havaianas no país, podemos estimar que vendemos cerca de 1 par de Havaianas por brasileiro, anualmente.
Diante desse panorama, de nossos direcionadores estratégicos e de nossos princípios enquanto organização, nós reconhecemos nossa responsabilidade integral pelos produtos que colocamos em circulação, que possuem vasta capilaridade nacional e global, considerando não somente os aspectos de fabricação, mas também de seu uso e pós-consumo.
A percepção da relevância desse tópico para nossos negócios é ainda reforçada pela perspectiva de nossos stakeholders a partir da última revisão da materialidade da Alpargatas, que ocorreu no início de 2023. Novamente, “economia circular e matérias primas” se consolidou como um de nossos principais temas materiais.
A estratégia do negócio – composta pelos direcionadores Digital, Inovadora, Global e Sustentável – já sinaliza a relevância do cuidado com os aspectos socioambientais que margeiam nossa cadeia de valor. E, a partir desse direcionamento macro institucional, e do cruzamento com as perspectivas de nossos públicos e dos principais guidelines e práticas do mercado, a Estratégia de Sustentabilidade da companhia foi desenvolvida e publicada em 2022. Dentro desse escopo, são trabalhados os três pilares socioambientais tidos como essenciais para o sucesso do nosso negócio: Economia Circular, Operações Responsáveis e D&I e Desenvolvimento Local.
O pilar dedicado exclusivamente ao tema aborda tanto aspectos relacionados à matéria-prima, como ao pós-consumo. Temos 4 metas de longo prazo (até 2030 – em linha com a Agenda 2030, da ONU), sendo duas delas vinculadas especificamente ao avanço e consolidação do Havaianas reCICLO: 1. Ter 100% de lojas monomarca com Programa de Logística Reversa implementado e 2. Recuperar 10% do volume comercializado de sandálias via programa de logística reversa.
Com apenas 2 anos de vida e ainda em estruturação, o programa já é reconhecido como parte integrante de nosso negócio, estando presente em 16 países, com mais de 200 pontos de coleta espalhados no Brasil, nos EUA, na África do Sul, na Austrália, Indonésia, Filipinas, Tailândia, Singapura e em 9 países europeus: Portugal, Espanha, Itália, França, UK, Grécia, Alemanha e Holanda.
Como já mencionado anteriormente, os desafios que perpassam essa estruturação são significativos. É necessário que a companhia olhe continuamente para o desenvolvimento de efetivas, completas e sistêmicas ao longo da nossa cadeia de valor. E quando falamos de borracha, esse processo se torna ainda mais desafiador, pela inexistência de uma cadeia pós-consumo já desenvolvida e formalizada.
Hoje, ainda é preciso investir muito em pesquisa e desenvolvimento para entender quais são as possíveis novas destinações, descobrir quais dessas soluções são escaláveis a ponto de dar conta do volume, quais são as alternativas viáveis economicamente (se não, como torná-las), quais parceiros estão dispostos a testar possibilidades conosco e, futuramente, absorver o material, entre tantos outros pontos.
O investimento em P&D e na estruturação prática do programa (desde comunicação, mobiliário, maquinário até contratação e articulação de parceiros, desenvolvimento de testes e viabilização logística) hoje representam um montante significativo para a companhia e para as nossas unidades de negócio. Porém, a médio/longo prazo, a partir da viabilização das soluções de coleta e incorporação em larga escala, a expectativa é as novas relações comerciais geradas pela compra dessa matéria-prima (resíduo recolhido e beneficiado) sustentem financeiramente toda a operação, tornando o programa autossuficiente. Estudos e avaliações já estão sendo trabalhados nesse sentido.
Hoje temos equipes de Marketing, Pesquisa & Desenvolvimento e Sustentabilidade formalmente direcionadas e responsabilizadas pelo tema e diversas outras (do core, backoffice e operação) indiretamente envolvidas no processo. ” “Partimos de um panorama no qual a cadeia pós-consumo da borracha é praticamente inexistente, principalmente quando comparada com as cadeias de outros materiais, bem como o desenvolvimento de suas soluções de logística reversa. O programa Havaianas reCICLO é pioneiro e inovador em muitos aspectos.
Trabalhamos com o objetivo de elevar o valor agregado do resíduo de borracha – como ocorre com o alumínio hoje e que viabiliza um índice de reciclagem de latas que chega a aproximadamente 99% no Brasil. Para isso, tem sido necessário entendermos esse complexo ecossistema, abrirmos as portas de entrada, investirmos massivamente em Pesquisa e Desenvolvimento para a criação de novas tecnologias e produtos, além prospectar e desenvolver parceiros para compor essa cadeia, e que topem inovar e testar possibilidades.
Do ponto de vista técnico, a borracha é um complexo material para se trabalhar. Da mesma forma que traz um grande desafio na fabricação, carrega essa característica no fim do seu ciclo de vida, na reciclagem. Por isso, os esforços do reCICLO na construção de um ecossistema de valoração dos resíduos de borracha são imensos e contínuos. As apostas do programa são em várias tecnologias distintas de reciclagem do material.
Além do desafio técnico e químico, o programa traz consigo toda uma problemática capilarizada. No Brasil, estabelecemos parceiros de tratamento e transformação do resíduo em todas as regiões de atuação, de modo que cada pólo seja autossuficiente. Dessa forma, Sul, Sudeste e Nordeste já contam com lojas, cooperativas e parceiros beneficiadores e transformadores que garantem o novo ciclo de vida da borracha.
Nessa mesma ótica pulverizada, como o reCICLO é uma iniciativa global, contamos com os desafios locais também em cada continente diferente. Como cada unidade de negócio conta com a coleta de resíduos comercializados naquela região, cada país conta com uma solução, ecossistema e estratégia de reciclagem e transformação dos resíduos – mas seguindo a mesma lógica e estratégia definida globalmente pela companhia.
Em termos de recolhimento, a grande questão é como agregar volume e trazer para o processo as cooperativas de reciclagem, que até então, não viam valor agregado no resíduo de borracha. Ao estabelecer parcerias e remunerar essas organizações pela triagem das sandálias, o valor comercial passa a existir e os resíduos deixam de ser encaminhados como rejeitos para aterros ou lixões.
A gestão, prospecção e inclusão dessas cooperativas de reciclagem já ocorre em todos os estados brasileiros, contando com parceiros recicladores nas macro regiões do país, o que é fundamental para um ecossistema de reciclagem articulado em rede e não centralizado em um único polo. Além do ganho financeiro de logística, prezamos pelo desenvolvimento local de cada região.
Um exemplo de solução de borracha Havaianas reciclada é o pneu de carrinho de mão do Grupo Force, desenvolvido em parceria com a Havaianas com utilização de resíduos industriais da marca. Como a tecnologia em termos de matéria prima é a mesma, abre-se margem para trabalho e utilização dos resíduos coletados em pós consumo nessa frente, numa continuidade de parceria sustentável.
Além desse case, hoje é possível reciclar a borracha captada do meio ambiente por meio da transformação em vasos, cachepôs, mantas, pisos, porta copos e acessórios variados.”